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Uma menina do oito anos de idade morreu no último domingo (13) em Ceilândia, Distrito Federal, e a principal suspeita é que ela tenha participado de um desafio disseminado em redes sociais como o TikTok que estimula crianças e adolescentes a inalarem desodorante pelo maior tempo possível.
Conhecido como “desafio do desodorante”, o conteúdo foi publicado nas redes sociais e acabou ganhando milhares de adeptos.
Mas, afinal, o que é o “desafio do desodorante”? Como ele se populariza? E que consequências isso pode trazer para quem participa do tal desafio?
O Jornal da Paraíba tenta responder essas e outras perguntas sobre o assunto.
O desafio do desodorante
É consenso entre estudiosos sobre redes sociais que “trend” é o nome dado a um conteúdo que ganha destaque e vira corrente nas redes sociais, sendo reproduzido por várias pessoas.
A expressão vem do inglês para “tendência”, e ajuda a reforçar a ideia de que algo que está na moda na internet, é repetido por muitos perfis de gente comum, famosos ou empresas nas redes sociais.
O “desafio do desodorante”, portanto, é uma dessas “trends” e acaba recebendo milhares de adeptos nas redes sociais. A questão é que, ao contrário de outras tendências que podem surgir, essa estimula crianças e adolescentes a realizarem uma prática que pode levar a graves problemas de saúde ou até mesmo à morte.
O leva crianças e adolescentes a participar do desafio do desodorante?
De acordo com a psicóloga Iara Maribondo, muitas vezes crianças e adolescentes se sentem atraídos por esse tipo de desafio por causa de uma necessidade de se sentir aceito, de se sentir pertencente ao grupo.
Dessa forma, eles fazem aquilo o que, na cabeça deles, “é exigido socialmente”.
Ainda de acordo com a especialista, isso acontece muitas vezes por causa de um rebaixamento da autoestima, que faz com que esses jovens sintam a necessidade de assumir comportamentos de risco para poder pertencer a um grupo específico.
O que os pais devem fazer?
Iara Maribondo explica que o diálogo é sempre uma boa opção.
“É urgente cuidar das nossas crianças e adolescentes. Reforçar a autoestima e fazer eles entenderem que não é necessário assumir um comportamento de risco para ser aceito socialmente”, destacou.
Ao mesmo tempo, ela destaca que regras precisam necessariamente serem impostas. “É preciso estabelecer limites e regras claras. Definir tempo de uso, conteúdo a ser consumido, limites sobre o que fazer e com quem conversar nas redes sociais”, completou.
Quais os riscos do desafio do desodorante?
O pneumologista Alexandre Araruna destaca que o oxigênio é a única substância que os pulmões podem inalar de forma saudável e que produtos como desodorante podem ser altamente nocivos.
Ele destaca que ali possuem substâncias diversas, produtos químicos agressivos geralmente embebidos em álcool. “Uma vez adentrando a via respiratória, pode provocar danos imediatos”.
Alexandre cita o risco de obstrução das vias aéreas, o que pode gerar insuficiência respiratória aguda, inclusive em pessoas saudáveis.
Em casos mais graves, isso pode provocar rebaixamento do nível de consciência e, inclusive, parada cardiorrespiratória, com consequências imediatas em órgãos como o coração.
Alguém pode ser responsabilizado pelo desafio do desodorante?
Segundo o delegado Walber Lima, da 15ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal, que está responsável pelo caso da menina que morreu em Ceilândia, a vítima foi encontrada desacordada com um celular e um desodorante próximo ao seu corpo. Ela chegou a ser atendida, mas morreu no hospital.
A principal linha de investigação é que a menina participou do desafio após assistir a vídeos na internet.
O delegado ponderou, então, que os responsáveis pela publicação podem responder por homicídio duplamente qualificado — crime com pena de até 30 anos de reclusão.
O celular usado pela menina foi apreendido e encaminhado para a perícia. O conteúdo armazenado no aparelho pode ajudar a polícia a rastrear a origem do vídeo. O laudo deve ficar pronto em cerca de 30 dias.
Fonte: Jornal da Paraíba