A cardiopatia congênita é uma das principais causas de morte neonatal no Brasil. Imagem Envato
No Dia Nacional de Conscientização da Cardiopatia Congênita, é hora de falar com profundidade sobre uma condição que muitas vezes passa despercebida até causar um susto: o coração que já nasce com defeitos. Não apenas números ou diagnósticos. Estamos falando de vidas que começam exigindo atenção redobrada, cuidado especializado e, muitas vezes, decisões urgentes nas primeiras horas após o parto.
O que acontece quando o coração não se forma como deveria?
Durante a gestação, o coração do bebê passa por um processo complexo de formação. Pequenas falhas nesse processo — muitas vezes milimétricas — podem gerar alterações na estrutura do coração, como ausência de válvulas, comunicação entre cavidades que deveriam estar separadas ou vasos sanguíneos invertidos. Essas alterações são chamadas de cardiopatias congênitas.
A gravidade varia. Algumas são leves e só serão descobertas na infância ou adolescência. Outras exigem cirurgia imediatamente após o nascimento. E em muitos casos, mesmo após o procedimento inicial, a criança precisará de acompanhamento contínuo por anos — às vezes, por toda a vida.
Riscos aumentados: quando acender o alerta ainda na gestação
Embora muitas cardiopatias ocorram de forma isolada e imprevisível, há situações que aumentam o risco de o feto desenvolver um problema cardíaco:
• Presença de síndromes genéticas (como Síndrome de Down ou de DiGeorge)
• Mães com diabetes mal controlado
• Infecções como rubéola, toxoplasmose ou citomegalovírus durante a gravidez
• Uso de medicações contraindicadas na gestação
• Histórico familiar de cardiopatia congênita
• Idade materna mais avançada
Nesses casos, o acompanhamento pré-natal deve ser ainda mais atento — e incluir, sempre que possível, um ecocardiograma fetal. Esse exame permite detectar malformações ainda dentro do útero, o que ajuda a planejar o parto em centros com suporte para cirurgias cardíacas neonatais.
O nascimento precisa ser planejado com cuidado
Quando a cardiopatia é diagnosticada ainda na gestação, muda tudo:
A equipe obstétrica, a UTI neonatal, o cirurgião cardíaco, os anestesistas — tudo precisa estar coordenado para garantir que o bebê nasça em um hospital com estrutura para diagnóstico e intervenção imediata. Essa logística pode fazer a diferença entre a vida e a morte nas primeiras horas.
O pré-natal não termina no ultrassom morfológico. É papel do obstetra suspeitar e, quando necessário, encaminhar para o ecocardiograma fetal. E, uma vez confirmada a cardiopatia, garantir que a família esteja acolhida e bem orientada sobre os próximos passos.
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Cirurgias delicadas e reoperações
Algumas crianças com cardiopatia congênita enfrentam cirurgias cardíacas de alta complexidade com poucos dias de vida. São procedimentos feitos em estruturas do tamanho de um morango, exigindo tecnologia avançada, equipe especializada e suporte intensivo.
E esse costuma ser apenas o começo. Muitos pacientes precisarão de mais de uma cirurgia ao longo da vida, ajustes de medicação, acompanhamentos periódicos com ecocardiologista pediátrico e, em alguns casos, até transplante cardíaco.
Mesmo nas cardiopatias mais simples, há impactos no crescimento, no desempenho físico e no desenvolvimento global da criança, exigindo acompanhamento multiprofissional.
Vacinados, protegidos e fortes
Crianças com problemas cardíacos fazem parte do grupo de risco para infecções respiratórias e virais, que podem agravar a insuficiência cardíaca, causar descompensações e até exigir internações em UTI.
Por isso, a vacinação em dia é fundamental.
Algumas recomendações específicas incluem:
• Vacina contra o vírus influenza (gripe) todos os anos
• Vacinas pneumocócicas — protegendo contra pneumonia, meningite e otites
• Vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), indicada nos primeiros meses de vida para bebês com alto risco (em especial prematuros e cardiopatas graves)
• Reforços contra COVID-19, se recomendados pela faixa etária
Pais e cuidadores devem conversar com o pediatra ou infectologista sobre a possibilidade de um calendário vacinal diferenciado para a criança cardiopata, com vacinas de uso especial ou fora do PNI (Plano Nacional de Imunização).
O cuidado vai além do coração
Cuidar de uma criança com cardiopatia congênita é uma jornada. A família passa a conviver com consultas, exames, hospitalizações, restrições e inseguranças. E também com superações.
Muitas dessas crianças crescem bem, com qualidade de vida, estudam, praticam esportes com supervisão e constroem sua autonomia. Mas para isso, é preciso garantir:
• Acesso ao diagnóstico e tratamento no tempo certo
• Equipe multidisciplinar disponível pelo SUS
• Acompanhamento cardiológico ao longo da infância
• Suporte emocional para pais e cuidadores
Informação é cuidado
No Dia Nacional de Conscientização da Cardiopatia Congênita, é hora de lembrar que o amor por esses pequenos corações começa com informação. Quanto antes o diagnóstico, maiores as chances de uma vida saudável.
Se você está grávida, tem histórico na família ou desconfia que algo não vai bem com o coração do seu bebê, procure ajuda. Fale com o obstetra, com o pediatra, pergunte sobre exames e direitos.
A vida pulsa mais forte quando a gente cuida.
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Fonte: Jornal da Paraíba